2009-11-30_capitular_001oje falarei sobre capitulares. Tipo esse “H” gigante no começo do parágrafo. Este ornamento é usado a mais de um milênio. Provavelmente criada por antigos Monges-Escribas Cristãos, em alguma abadia europeia. Como a única função de suas vidas era transcrever textos antigos para novos pergaminhos, afim de protegê-los da ação do tempo, os monges tinham tempo de sobra para caprichar no serviço:

Além de desenharem cada caractere com detalhes rebuscados, os “enclausurados” aproveitavam para criar grafismos nas laterais das páginas, com referência às plantas cultivadas nos jardins do mosteiro. Somando-se a caligrafia rebuscada com os grafismos laterais, e aumentando um pouco o tamanho, temos as primeiras Capitulares.

Tanto os escribas, quanto os tipógrafos (de ontem, hoje e sempre) usam este ornamento para marcar o início de um capítulo, seção ou algum outro agrupamento de texto, daí o nome, “capitular”.

Nos quatrocentos anos anteriores da história tipográfica, basicamente a única mudança que as capitulares sofreram foi a “perda de cores”. Se você, em casa e/ou no trabalho, vive economizando tinta colorida, ou simplesmente tem acesso apenas a uma impressora P&B, fica fácil entender essa “perda de cor”.

Ao longo do século XX, este recurso foi se simplificando. Com o rápido avanço tecnológico, algumas coisas ficaram mais fáceis e outras mais difíceis de fazer. Quando surgiu a fotocomposição, por exemplo, a sobreposição de caracteres e outros tornou-se algo muito simples de se fazer. Porém focar um símbolo absurdamente detalhado, apenas por “frescura estética”, passou a ser perda de tempo. Provavelmente, este deve ter sido o motivo que levou a se usar a primeira letra aumentada, com a mesma fonte e, algumas vezes, com o mesmo peso como capitular.

Basicamente, as capitulares são posicionadas de duas maneiras: a primeira e mais antiga, alinhada ao topo da primeira linha (normalmente toma-se como referência a linha das ascendentes), forçando um recuo nas linhas seguintes; a segunda forma é alinhar à base do início do texto.

Particularmente, não sou grande fã da leitura narrativa. Por mais estranho que seja, prefiro muito mais um bom livro técnico de design, web ou tipografia do que Harry Potter ou Crepúsculo. Então não posso dizer se os títulos da moda usam ou não capitulares. Mas posso afirmar que raramente as encontro nos títulos que leio.

Na verdade, nem lembrava que existiam. Apesar de muitos jornais e revistas usarem capitulares no início de algumas matérias, quase nunca as vemos na internet. Hoje em dia buscamos muito mais informação na rede que em papel. E como já deu para perceber, na web não é o lugar mais fácil do mundo para implantar este recurso. Pessoalmente, ficou horrível. E para chegar em horrível, foram necessárias muitas correções.

Fara as dificuldades técnicas do uso das letras capitulares na internet, hoje o início do capítulo de um livro é muito bem sinalizado (pelo menos os que eu leio). Nunca vemos um capítulo começando na mesma página que o anterior acabou. Na verdade, raros são os casos em que capítulos começam em páginas pares. Ainda que uma página ímpar abrigue as últimas duas ou três linhas do capítulo, o restante dela e a próxima página ficam em branco (apenas a numeração é impressa).

Com todo este intervalo, e com um generoso recuo vertical para a inserção do título (ainda destacado pela fonte, peso, corpo e, as vezes, pela cor), o início do paragrafo fica bem marcado. Isso tudo torna ainda mais desnecessário o uso de uma única letra gigante no começo da primeira linha do texto.

Não posso afirmar com certeza se as capitulares sempre foram usadas durante os quinhentos anos da história tipográfica. Imagino que este deve ser um recurso que entrou e saiu de moda inúmeras vezes. O que vejo, atualmente, é este ornamento caindo em desuso ao poucos. Quem sabe daqui algumas décadas as capitulares voltam a ser indispensáveis?

Comentários

  1. Ganthet disse:

    Pelo menos agora eu sei que essa porcaria tem nome. Pra mim era só uma frescura sem nome nem explicação.