capa-variante-da-41-edicao-da-hq-batgirl-em-comemoracao-aos-75-anos-de-coringa-1426564472123_300x420[1]

Em 1990, o Coringa atirou em Bárbara Gordon, a Batmoça (ou Batgirl) original. Na clássica história, A Piada Mortal, escrita pelo “perturbado” Alan Moore, o “Palhaço do Crime”, aleijou a jovem heroína, na porta de seu próprio apartamento, e a sequestra. No cativeiro, ele a tortura (o roteiro não deixa explícito, mas há forte insinuação de abuso sexual). O objetivo de toda essa barbárie era enlouquecer o pai da garota, o comissário de polícia de Gotham City, Jemes Gordon.

De todas as tragédias que se abateram sobre os principais super-heróis (tanto da Marvel, quanto da DC), essa sempre pareceu a mais definitiva de todas. O personagem Bárbara Gordon foi reformulado tornado-se uma hacker estrategista. Sob o codinome Oráculo, a agora paraplégica moça, tornou-se a principal estrategista do time do Batman, um apoio importante para a Liga da Justiça e líder de uma equipe só de mulheres, as Aves de Rapina.

Já no século XXI, outras garotas assumiram a identidade de Batgirl (o nome “Batmoça” foi definitivamente aposentado), sempre com a benção de Bárbara. Ou seja, foi uma tragédia realmente absorvida e bem resolvida dentro do Universo DC.

Observação: a morte do Flash da Era de Prata, Barry Allen, durou muito mais tempo que o período do que o período na cadeira de rodas vivido pela Batmoça. Mas Barry Além não foi assassinado, fez um heroico sacrifício para salvar o Multiverso (todas as realidades alternativas da DC Comics), durante a saga Crise nas Infinitas Terras.

Não me lembro quanto tempo exatamente faz que abandonei a leitura de quadrinhos. Foi depois da editora DC zerar o seu Universo. Visando atrair uma nova geração de leitores, a empresa reiniciou o histórico de todos os seus personagens. Nesse novo contexto, a tragédia de Bárbara Gordon foi apagado e ela voltou a ser a Batgirl.

Hoje a revista Batgilr é voltada para o público feminino adolescente.

Este mês, a DC comemora os 75 anos da primeira aparição do Coringa. Como é de praxe, alguns desenhistas foram convidados a criar capas variantes para as principais publicações ligadas ao personagem homenageado. Para desenhar a capa extra da 41ª edição da nova revista da Batgirl, a editora convocou o brasileiro Rafael Albuquerque, que resolveu relembrar a Piada Mortal (ver a arte à direita deste post).

Porém, a divulgação prévia da arte gerou muitas queixas nas redes sociais de entidades ligadas à luta por direitos femininos. A capa acabou não sendo publicada e muita gente contra-atacou acusando a editora de censura.

Hoje, no UOL, li uma entrevista do próprio Rafael Albuquerque esclarecendo o caso (http://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2015/03/18/a-industria-de-hq-sempre-foi-machista-diz-brasileiro-de-capa-da-batgirl.htm?fb_ref=Default).  Segundo o artista, ele mesmo pediu à editora que reconsiderasse a publicação da homenagem ao Coringa.

Albuquerque não quis nem saber quem tem razão. Ele apenas se deu conta o quanto a sua criação ofendia muita gente. Garotas de 14 a 17 anos não tem obrigação de conhecer histórias escritas uma década antes delas nascerem. Um produto que objetiva aumentar a autoestima dessas meninas jamais deveria trazer uma imagem tão pesada estampada na capa.

Segundo Rafael Albuquerque, “a Liberdade de Expressão deve vir acompanhada de responsabilidade”. Eu acrescento que a Liberdade de Expressão não se sobrepõe ao Direito à Opinião. E, a qualquer momento, qualquer um pode repensar seus conceitos.

Nessa época, que o Brasil vive um racha ideológico (que beira o radicalismo), deveríamos ter o mesmo bom-senso que o Rafael Albuquerque teve. Isso nos ajudaria a resolver logo a crise moral que estamos passando e que está contaminando a nossa economia.