Não me lembro quando foi que conheci o suplemento sobre computadores do Estadão. Provavelmente, o  leio desde as primeiras edições, lá por meados dos anos 90, quando o jornal era praticamente todo em preto e branco. O Caderno de Informática (nome pelo qual me refiro a ele até hoje) fez parte (provavelmente) de metade da minha vida.

Lembro-me de me encantar com a tecnologia dos processadores MMX, apresentada no caderno. Mesmo sem entender direito o que era, quando meu pai comprou o primeiro computador da casa eu exigi que ele tivesse um Pentium 200 MMX. O vendedor acabou me convencendo a levar um 166, que era o “carro-chefe” da loja. Era uma época em que essas coisas você não achava em qualquer lugar, o mercado de informática era abastecido por contrabando vindo da Ponte da Amizade. Era tudo muito caro e quase nada vinha com nota fiscal. Basicamente, ou você levava o que estava disponível ou ficava sem.

Na virada do século, manutenção de computadores era cara. Os amigos se ajudavam. Se precisava formatar o computador, pedia o CD do Windows (em 98% das vezes pirata, os outros 2% eram tentativas frustradas de instalar o Linux) para meu visinho. A outros amigos pedia disquetes para salvar tudo o que havia no meu “enorme” díco rígido de 2GB (hoje em dia, esse espaço você consegue de graça na internet). Fora os “CDs cheios” que você comprava de um cara que investia horrores num gravador e cobrava caro pra caramba, por um disco lotado, que cheio de programas e jogos, que nem todos funcioavam, dos quais você queria ou precisava de um ou dois (geralmente aquele que não funcionava).

Já nos anos 2000, eu montei meu primeiro “computador solo”, depois de um curso de manutenção no SENAI. Mês a mês, sempre que recebia meu salário, pegava o trem para São Paulo e gastava-o quase todo na rua Santa Ifigênia. Meu guia de compras nesta época: o Caderno de Informática do Estadão.

A internet não era tão rápida nem tão precisa, nos tempos da conexão discada. então, na época que eu fazia o curso no SENAI, acompanhava semanalmente pelo jornal a corrida pelo Giga Hertz, travada entre a Intel e a AMD (a vencedora).

Várias outras tecnologias me foram apresentadas pelo Caderno de Informática: os arquivos de áudio MP3; a telefonia celular digital, com conexão WAP; os processadores de Slot1; as memórias DIM e DDR; os monitores LCD (com pontos “queimados de fábrica” e ângulo de visão limitado (e essa foi a única refêrencia a telas que não eram de tubo na minha mongrafia sobre “fonte tipográfica para legendas de tradução de vídeos”, em 2005); as bandas largas, em todas as suas versões; e muitas outras inovações que você não teria paciência para ler.

Com chegada da cor em todas as páginas do Estadão, vieram os elaborados infográficos de página dupla, denominados “Personal Nerd”, que eram usados para mostrar como era um servidor por dentro ou para comparar o percurso do sinal da TV a cabo com o da TV por satélite. Eram bonitos, interessantes e úteis.

Com o tempo, oncorme a “informática braçal” era substituida pelos computadores comprados prontos no Carrefour e na Kalunga, o Caderno de Informática começou a abordar outros eltrônicos do cotidiano. Aparelhos de som que tocavam CDs cheios de MP3, DVDs player. A internet também foi tomando o lugar dos jogos e softwares tradicionais no suplemento.

Também não me lembro quando exatamente, o Caderno de Informática foi renomeado para Link. Ao invés de computação, seu novo foco era a “vida digital”. E o texto que apresentava a mudança dizia que as palvras “Informática” e ”Computação” estavam banidos (não estou exarando) nesta nova encarnação.

A tecnologia ainda era a base do suplemento. Mas tinha uma coluna que abordava economia e política chamada Navegar Impreciso, assinada por Pedro Dória que já sinalizava qual seria o futuro do Link. Eram textos que traziam a tecnologia para o “plano mundano”.

Depois que Pedro Dória deixou a redação do jornal, o Link já falava cada vez menos de hardware ou software. As redes sociais e aplicativos para iPhone começaram a dominar a pauta de maneira desproporcional. Temas menos “informáticos” como música, cinema, Congresso Nacional, expulsaram do caderno os bits, bytes e hertz. Definitivamente não dava mais para chamá-lo de Caderno de Informática. Agora ele era  um meio termo entre o Caderno de Economia e o Caderno 2. Mas ainda assim ele se mantinha relativamente interessante.

Aponto a coluna P2P, assinada por Tatiana Melo Dias, como a sucessora da Navega Impreciso.

Na semana passada, algumas pistas foram jogadas: colunas se despediam do papel e a do ex-edito foi cancelada.

Depois de passar por muitas reformulações visuais, trocas de comando e equipe, e até mudar totalmente de assunto, segunda passada o Link não veio. Apenas duas páginas entre duas páginas, entre páginas de economia, marcaram presença na edição de segunda-feira, 22 de abril de 2013, do jornal O Estado de São Paulo. Sem se despedir, o Caderno de Informática acabou.

O que percebi na verdade foi uma reformulação total do Estadão. Todo o jornal perdeu páginas. Está bem mais fino. Ele está migrando para internet, para ser lido em tablets e smartphones. Essa é uma tendência mundial.

Não lamento o fim do Link. Finalmente eu conseguirei parar de guarda todas as edições do Caderno de Informática (tenho uma pilha de anos de Links amarelados gardados em casa).