Após quatro dias “largado” em casa, é hora de voltar para a “lida”. Porém, na empresa onde trabalho, tradicionalmente o expediente sempre começa ao meio-dia às Quartas-Feiras de Cinzas. Perfeito para curar a ressaca.

Como não tinha nenhuma ressaca para curar, decidi que sairia de casa no horário de sempre para caçar vacas. Vacas da Cow Parede, o mesmo evento que passara por São Paulo em 2005. Trata-se de uma exposição que percorre várias cidades pelo mundo. Artistas locais são convidados a personalizar dezenas de vacas de fibra-de-vidro que são espalhadas pela cidade, durante alguns meses. Cada uma das “obras de arte” tem um patrocinador, e no final da exposição é leiloada para caridade.

cow-parade_2005Falando assim parece uma enorme babaquice. Provavelmente deve ser mesmo. Essa era minha opinião cinco anos atrás, quando soube na mídia que o evento existia.

Opinião que mudou imediatamente quando encontrei a primeira: eu ia da Pompéia para o Mackenzie. Passei na Kalunga para comprar papel para imprimir meu trabalho de graduação, e como estava muito adiantado para meu último atendimento de orientação antes da entrega final, decidi fazer o percurso apé mesmo. Passando pelo estádio do Pacaembu e pela FAAP, cheguei à praça Vila Boim, e ali estava ela, pensativa, sentada sobre três pneus, a primeira vaca que encontrei.

Estava com a cabeça cheia, pensando nas possíveis correções do trabalho, no que eu faria após a formatura. Mas naquele minuto esqueci de tudo. Aquele foi um momento mágico. Foi legal pra caramba!

Seguindo meu caminho encontrei outra um pouco mais a frente, na praça Buenos Aires. Ainda encontrei algumas outras vacas na região da esquina da avenida Cidade Jardim com a Faria Lima, uma na estação Vila Madalena, uma na rodoviária do Tietê, e mais algumas que não me lembro onde.

Voltando a 2010: hoje minha vida é muito mais corrida que a cinco anos. Infelizmente quando me sobra tempo, acaba faltando um pouco de disposição. Mesmo assim prometera a mim mesmo que, num sábado qualquer, pegaria minha câmera, traçaria um amplo roteiro e sairia cedinho de casa para “caçar” as vacas.

Sabia que dificilmente cumpriria essa promessa. Então, na terça a noite tive uma ideia: acordarei no horário de todos os dias e irei atrás das vacas. Como a decisão foi tomada muito repentinamente, não tive tempo para recarregar as pilhas da câmera, nem traçar o roteiro. Solução: fotografar com o celular e ir direto onde eu sabia que havia vacas: Vila Madalena e Paulista.

Então vejamos o que essa caçada nos trouxe:

Vaca Telúria – 52
Artista:
Vicente de Mello

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O autor que me desculpe, mas essa vaca é muito feia! O local também não ajuda, dessa vez a vaca da Estação Vila Madalena foi colocada entre as escadas de acesso ao terminal de ônibus. Um local mal iluminado.

Essa vaca rosa foi exposta na Cow Parade Rio de Janeiro, em 2007, porém com uma pintura diferente na cavidade da barriga. Cavidade que muita criança deve ter sentado para a mãe fotografar.


Soja e MUUUito Mais – 62
Artista:
Toni Machado

Consolação2010-02-22_consolacao_002pConsolação

Localizada sobre o “buraco da Paulista”, no cruzamento com a rua BelaCintra, essa vaca (dentre boa parte do cervo todo), deixa bem claro que a brincadeira é bem mais comercial do que parece. E o engraçado neste caso específico é que o patrocinador faz parte do segmento que mais tenta roubar o mercado das vacas: o leite de soja.

Como leite de soja, em seu sabor “natural”, não é tão gostoso quanto o leite bovino, enxeram essa vaca de frutas, pra dar um gostinho melhor.

Outra coisa curiosa é que ela bebe o leite de soja, e não produz. Gado confinado (aquele que não se alimenta de grama) normalmente come uma ração feita de milho e soja.


Cowddy – 74
Artistas:
Cusco, Carla Barth, Estúdio Alice

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Essa vaca quase na esquina com a rua Augusta merecia um nome melhor que uma simples puxada de saco no patrocinador.

Você olha para ela e tem a sensação que foi pintada in loco. Um grafiteiro de cada lado, um artista-plástico trabalhando na cara, e bunda branca. Essa foi a vaca mais urbana que vi. E pelo que conferi na internet realmente é. Além do grafite, ela tem um monte de pichação que não deu para entender se fazia parte da obra ou se era vandalismo de algum pedestre sem-noção.

Aliás, o que torna tudo mais interessante é que as vacas estão expostas a tudo: chuva, vento, sol, pichação, vandalismo, furto, poluição ou qualquer outra coisa que possa degradá-las. Teve até uma que foi levada pela enchente na quinta feira. Ninguém guarda elas a noite. E é legal ver como os seguranças e porteiros de prédios zelam por elas. Isso tudo faz delas uma parte real da cidade e muda a vida de quem convive com elas. Muita gente terá saudades delas.

Sampa Sem Parar – 38
Artista: Morandini

FIESPFIESPFIESP

Repare uma coisa interessante na vaca que está na porta da FIESP: um lado representa o dia paulistano, o outro a noite. No momento que a fotografei, a “face diurna” da vaca estava voltada para o sol. Consequentemente, o noturno estava sombreado.

Não importa o lado que você passe, ela sempre te dará um sorriso. Essa foi a vaca mais simpática que encontrei.

Paulista
Escowdaria – 30
Artista:
André Ortiz

Quase na esquina com a alameda Campinas (nunca ouvi falar dessa rua). Sem dúvidas a vaca mais feia que eu vi, nesta e na outra edição. Sem graça, pior que a da vila madalena. Estava até sem a placa de identificação.

O cara simplesmente cortou a vaca ao meio e colocou um par de degraus de cada lado. Só em casa, quando editava as fotos pensei: será que o artista queria que a gente atravessasse a vaca? Na hora não tive a menor vontade e continuou sem nenhuma.

Sei lá… acho que a criançada deve ter gostado dessa porcaria.


Vaca Torpedo – 67
Artista:
Fabio Malx

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Como você verão na foto ampliada, ela está praticamente na saída da Estação Brigadeiro.

Ela é bem mais legal do que parece. Mandei três mensagens para ela, para fotografar, mas não é tão instantâneo quanto disseram. Me senti enganado.

Mesmo assim fico imaginando como enfiaram um computador ali dentro, que não desliga nunca. Na verdade é um trabalho de eletrônica, não uma obra de arte.

Ainda tentei encontrar uma última vaca que estava próxima à esquina da Domingos de Morais com a Sena Madureira. Andei, andei, mas não achei. Desisti, e fui almoçar, que já estava quase na hora de trabalhar.

Quando fui conferir no site (cowparade.com.br) as informações para identificar as vacas para escrever este post, percebi que, pelo caminho que percorri, tinha muita vaca em que não vi. Havia uma bem próxima à Estação Vila Madalena. Outra na rua Treze de Maio, quase esquina com a Paulista. E as perdi por puro descuido, pois todas as vacas possuem um mapa das vacas da região em sua base.

Se você acha que tudo isso que escrevi é besteira, que eu deveria ter acordado mais tarde e ido trabalhar, eu lhe digo: conheça o lugar onde você vive. Não caçar vacas como eu fiz, mas explorar sua cidade, o bairro onde mora, trabalha e estuda. Você encontrará coisas que o surpreenderá. E isso não vale apenas pra São Paulo, serve para qualquer cidade do planeta. Seja Grande ou pequena.