A Avó do MP3
Alguns anos atrás (muitos, para ser mais preciso), meu pai levava eu e meus irmãos até o shopping, e no caminho passamos para pegar uma amiga da minha irmã. Lembro-me que o som estava muito alto na casa da menina. Ela iria gravar uma música do rádio.
Quando a aguardada música começou, ela começou a gravar. Antes do término do som, a avó dela abaixou o o volume. A menina então protesto: “Pô vó… Esperei o dia todo para tocar essa música para poder agrava-la, e a senhora estragou tudo!”. A não me lembro especificamente qual era, só lembro que era um Puts Puts desgraçado. Anos 90.
Numa época em que o CD já mostra sinais de cansaço, é interessante lembrar do que existia antes. Mas o que vem à mente de todos é o LP (Long Play), mais conhecido como vinil. Naquele tempo chamava-se apenas disco. Hoje muito procurados como artigo de coleção, edições especiais de CDs atuais e como instrumentos para música eletrônica. Mas não é deles que quero falar hoje.
Quero falar de praticidade: você se lembra das Fitas Cassetes? Aquela caixinha de plástico com dois rolos de fita magnética dentro.
Se o LP era legal, bonito, um ótimo presente para se ganhar, o K7 ia contigo onde você fosse. Num tempo em que o computador era apenas um artefato mágico, que todo mundo só ouvia falar, era em fitas que a gente gravava músicas avulsas. Muitas vezes do rádio, outras de discos e, com o Duble Deck, de outras fitas K7.
Pirataria? Tudo em fita. Os camelôs ofereciam cassetes dos mais variados artistas populares. A qualidade era péssima, mas era barato.
Copiar um disco? Também era feito em fita. Como tanto a fita quanto o LP tinham lados A e B, isso era bem fácil.
Se você entrevistava alguém, gravava tudo numa fita. Existiam as de 60 e 90 minutos, todas com dois lados.
Se você cantava ou tocava qualquer coisa, montava sua banquinha nos shows para vender suas fitas demos, com encartes feitos de colagem e reproduzidos em fotocopiadoras.
Era a única forma de ouvir música sem ser do rádio, se estivesse no carro ou com um walkman (o ancestral do Ipod).
Também existiam as desvantagens: enroscava, apagava perto de ímãs, distorciam o áudio quando expostas por tempos prolongados ao sol, e alguns outros que nem me lembro mais. A qualidade de som e sua durabilidade eram inferiores às do “bolachão”. Mas e daí? Se estragasse era só gravar outra.
Dez anos atrás, quando os HDs de 5 GB eram um exagero (o meu só tinha 2 GB), época da internet discada a 56kbs e gravadores de CD custando quase R$ 1.00,00, eu ainda gravava músicas em fita. Baixava MP3 no lendário Napster. Como não cabia muita coisa no meu computador, espetava o som estéreo 3 em 1 (rádio, vitrola e gravador) na minha placa de som e transferia as músicas que estavam inteiras para fitas.
Hoje tenho mais de 1.500 músicas em MP3, num total de mais de 4GB, armazenadas no meu computador, as quais não tive muito esforço para junta-las. Uma hora preciso sentar e apegar uma boa parte que nunca ouvi e nem ouvirei.
Ontem, achei uma fita nova e lacrada que usaria para gravar MP3. Lembrei-me da época em que até para ouvir música era preciso mais que apertar uma tecla.
Eram tempos piores? Não sei… Acho que não… Até para ouvir música era preciso se mexer, mas não morria tanta gente de stresse ou infarto…