Nada a Lugar Nenhum
O Município de Jundiaí está prestes a ganhar sua primeira ciclovia em um bairro central. Aproveitando as obras de prolongamento da marginal unilateral de um córrego, pavimentou-se parte da calçada com concreto vermelho. A via ligará a Rua do Retiro à Rua Luiz Gonzaga Martins Guimarães (que deveria servir de alternativa à Rua do Retiro, mas que só serve de extensão para o estacionamento do gigantesco condomínio de mais de 400 apartamentos).
A ‘nova avenida’, ainda inacabada, terá menos de 350 metros e ligará a portaria principal do condomínio Practice Residencial Club à sua portaria secundária. Ou seja, ligará nada a lugar nenhum. Quanto à ciclovia do complexo, provavelmente virará pista de corrida e caminhada para os moradores desse condomínio e de outro vizinho. É exatamente o que acontece com a ciclo faixa recreativa, segregada todos os domingos de manhã na avenida Luis Latorre, onde se vê de tudo, menos bicicletas.
Em Jundiaí, bicicleta é vista ainda pela maioria da população como um brinquedo. Para outros “mais moderninhos”, como “fitness outdoor”. Então não existe a cultura de pedalar por mobilidade. Muitos motoristas ainda acreditam que não tem problema em tirar fina (na verdade acham que o problema é a bicicleta andar pelo asfalto). Em compensação, os ciclistas jundiaienses se sentem no direito de furar sinais vermelhos (isso é igual em todas as cidades brasileiras), a pedalar na contramão e sobre a calçada. Tudo para manter o seu ritmo de exercício. Sem falar que são muito poucas as bicicletas como sinalização noturna: é raro ver alguém com olhos-de-gato ou luzes piscantes (e a maioria só sai a noite para dar uma voltinha, depois do trabalho, pelas avenidas mais movimentadas).
Oficialmente essa ciclovia, da marginalzinha, não é a primeira de Jundiaí: existem alguma em parques e outra que liga um bairro periférico a um bairro suburbano, no acostamento de uma estrada municipal. Talvez haja até alguma outra que eu não conheça. Mas no geral o que prevalece é o uso recreativo.
Adoraria acreditar que essa ciclovia do córrego será a primeira de uma extensa malha vermelha que cortará toda a cidade, mas sei que não. Se há uma coisa sagrada em Jundiaí é vaga de estacionamento. Não se criam ciclofaixas ou faixas de ônibus, sem proibir os carros de estacionarem em via pública.
Quanto à nova ciclovia, ela é tão precária que em suas extremidades não há rebaixamento de acesso.