Quando comprei minha trava U, a Amazon exigiu um depósito para pagamento de eventual taxação na alfândega brasileira. Esse é um procedimento padrão que a empresa adotou para evitar o retorno das suas postagens caso os compradores se recusem a quitar os custos tributários. Isso também agiliza a entrega aos clientes que optam pela não sonegação. Qualquer quantia que exceda os impostos incidentes é estornado no cartão.  Hoje tentei descobrir se tive algum reembolso desse depósito (mas terei de esperar a fatura chegar).

Isso reacendeu a minha indignação de não termos acesso direto a alguns produtos simplesmente porque os fabricantes descartam a exploração do mercado brasileiro. Pensei em possíveis desculpas para a Shimano, por exemplo, não nos disponibilizar a sua linha de cubos dínamo. O melhor argumento que encontrei foi que as bicicletarias no país só vendem luzes movidas a pilha ou bateria. Como a empresa japonesa não produz esses itens, os dínamos seriam inúteis por aqui.

E por que a própria Shimano não traz um lote de faróis e lanternas para viabilizar o comércio de dínamos no Brasil? Que empatassem os ganhos nessas peças, mas lucrassem muito nos cubos? Exatamente como a loja do Carrefour, no bairro do Limão fez, com fornos de microondas para vender comida congelada.

Quando eu estava na faculdade, meu professor de criação de marcas contou essa história sobre a loja do Limão. Aquele Carrefour da Marginal Tietê, ao lado da ponte Julho de Mesquita, é cercado de favelas e conjuntos Cingapura. Então o gerente do hipermercado encomendou uma pesquisa de perfil para os potenciais clientes que habitavam o entorno e entender suas principais necessidades.

O relatório mostrou que a maioria dos moradores da região, trabalhava em bairros distantes e gastavam muito tempo no deslocamento diário. Consequentemente, todos chegam em casa com muita fome e cansados de mais para encarar o fogão. A gerência da loja descobriu então um nicho: comida congelada barata, produzida na própria loja. Mas como descongelar este rango, se a mesma pesquisa mostrava que poucos vizinhos tinham microondas? Se fosse para perder um hora no forno comum, ninguém quereria os PFs do Carrefour.

A solução para este possível impasse foi exatamente a mesma que eu sugeriria à Shimano: o Carrefour importou um lote de fornos de microondas baratos e os vendeu na loja do Limão a preço de custo. Hoje cada cliente tem onde esquentar a sua janta, que compram congelada no hipermercado ao lado de casa.