Quando estava me aproximando do início da minha monografia, entre os livros técnicos e de referência que começara a ler, incluí um clássico universal de origem espanhola. Era um daqueles títulos que todos ouvimos falar sempre muito bem, mas nunca conecemos alguém que realmente leu. O nome era Dom Quixote de la Mancha, escrito por Miguel de Cervantes e publicado em 1605.

a versão original, cujo o nome  era El ingenioso hidalgo Don Qvixote de La Mancha, fora publicado em duas partes. Posteriormente foi reorganizado em três volumes. Mas escolhi essa versão laranja aí do lado, com bem menos páginas mas preservando bem o conteúdo, e era ilustrado com as gravuras de Gustave Doré.

Era um momento de transição na minha graduação. Hora de desenvolver um projeto complexo sozinho. Era o final do sexto semestre e em dois meses começaria o desenvolvimento de uma Fonte Tipográfica para Legendas de Tradução de Vídeo. Minha preocupação maior era estudar legibilidade, leiturabilidade, anatomia tipográfica, aprender a usar programas de geração de arquivos True Type, Pos Script e Open Type. Por isso quis conecer o “doido que enfrentava moinhos”.

Pra falar a verdade, não me lembro se tinha grandes espectativas ou se leria só pra falar que li. Mas foi uma experiência muito interessante. Devo dar crédito também ao tradutor, Ferreira Gullar, pela leitura empolgante.

Nunca li nada que transmitisse as emoções dos personagens tão bem. Quando Dom Quixote ri, você ri junto. Quando ele parte pra luta você se empolga e torce por ele. Quando ele se dá mal você fica chateado. Quando ele tem dor, você sofre junto. Quando ele se entedia, dá vontade de largar o livro.

Aficcionado por literatura de cavalaria, um velho fidalgo, com seus quarenta anos, veste uma armadura velha e decide sair pela Espanha, mentado no seu pangaré, para ajudar os fracos e salvar as donzelas. Ele contrata um ingênuo vizinho para ser seu escudeiro. Sancho Pança, montado em seu burrico, sempre leal, o único a acredita nele.

Como disse a um amigo (o qual obriguei a ler o livro), Dom Quixote foi o primeiro “RPGista Cosplay da História”. A obra ostra-nos como, mesmo que todos digam que não, muitas vezes abrir a mente e se entregar a insanidade (desde que não se prejudique ninguém) torna o mundo mais leve sobre nossos ombros.

Todos precisamos de diversão. Não precisamos exagerar como este fidalgo espanhol. Mas precisamos de diversão para viver.