Sabe aquelas coisas que vemos quando criança e percebemos que se trata de algo muito grave, mas só entendemos realmente o que aconteceu conforme crescemos?

Não me lembro exatamente se foi em 1986 ou 1987 que vi uma reportagem (não me lembro o programa) mostrando como estava Chernobyl. Na época nem entendia que Rússia e União Soviética não eram a mesma coisa. Mas um repórter partia da Rússia para um outro país dentro da URSS para visitar uma cidade abandonada.

Casas abertas. Brinquedos e roupas jogadas no chão. Carros abandonados no meio da rua. Uma pequena cidade sem cor e sem habitantes, onde o repórter não pôde ficar muito tempo. Uma usina “atôneca” explodira alí, matando muita gente, e expulsando o restante da população. Foi dito ainda que milhares de homens morreram para conter o material que vazava do reator.

Saindo do perímetro urbano, a equipe de reportagem mostrou algumas plantações ao ponto de colheita, dizendo que aquilo tudo jamais seria consumido por alguém, pois era arriscado. O repórter acrescentou que apenas cravar os dedos no solo poderia matar uma pessoa.

Alguns poucos camponeses, que se recusaram a sair do entorno da cidade, foram entrevistados.

Mas o que mais me marcou naquilo tudo foi um grupo de crianças vivendo num abrigo subterrâneo. Eles não podiam nem ver a luz do sol. Não tinham noção de quanto tempos estavam alí. Sua única “lembrança” do mundo externo era uma  foto do bosque acima do bunker que cobria toda uma parede.

Conforme o tempo passou, entendi o que ocorrera alí. O acidente radiológico de Goiânia. Discussões sobre desarmamento nuclear. Angra I e II. Os perigos de um simples Raio-X. O que é câncer. O que é uma bomba atômica. O que é fusão nuclear. Coisas aprendi na escola ou com outras pessoas. Por isso aquela reportagem era tão macabra.

Ambientalistas protestaram no mundo todo contra a energia atômica. Gritavam “Chernobyl nunca mais!”.

Mas, no meio da última década, o mundo passou a encarar a energia nuclear como uma solução ecológica. Basicamente, toda eletricidade da Europa, América do Norte e Ásia são geradas pela queima de carvão mineral e diesel, produzindo CO2, alimentando o efeito estufa. Por liberar apenas H2O para atmosfera, o plutônio e o urânio seriam combustíveis muito mais limpos para energizar o progresso.

Mas este ano, como todos sabemos, um terremoto no Japão lembrou-nos dos perigos da energia nuclear. Não foi preciso uma grande explosão como a de 25 anos atrás. O estrago de 2011 foi gradual, mas contínuo. Aumentou até igualar Chernobyl. Não matou o mesmo tanto de gente, mas deixou o medo mundial bem evidente.

Amanhã a explosão de Chernobyl completa 25 anos, mas a cidade ainda ficará inabitável por milênios.

Comentários

  1. […] Not too sure exactly what this is, but it was on display at the museum and I was so drawn to the colour and shape that I guess I forgot to read the description. Also you can read this related blog page: http://www.jodf.com.br/o-que-lembro-de-chernobyl/ […]