“Que  rádio você ouve?” era o que perguntava o Agente 89 no início da década de 1990. Caso o fictício interrogado respondesse qualquer uma que não a ‘Rádio Rock’, o personagem dizia “Ouvia” e atirava na pessoa.

Nesta época as estações FM eram dominadas por Pagode, Rap  e principalmente Dance Music (vulgo Putz Putz ou Bopero). Havia algumas rádios solitárias tocando outros gêneros, como Música Erudita, MPB, Música de Elevador, além do Rock’n’Roll, na 89 FM. A auto-denomidada ‘Rádio Rock’ tornou-se mania nos walkmans da molecada roqueira, fossem grunges, punks, metaleiros, góticos, ou adeptos de qualquer outra vertente surgida na época, ou herdada das décadas passadas.

Foi lá inclusive que surgiram os Sobrinhos do Ataíde, um trio de humoristas que apresentavam vários personagens lendários como o Peterson Foca (“Eu, o Zé  e os cara…”), o Pequeno Wilber (“Wilber, meu filho! Você se…”), e muitos outros.

Lá pelo meio da década, não conseguia mais sintonizar a emissora em Jundiaí. Ainda ouvia dizer que a 89 já não era tão rock quanto antes. Por tudo isso acabei substituindo o ‘ouvir rádio’ por uma rede de empréstimo de CDs e pelo boca a boca, para conhecer as novidades. Ainda não havia internet para todo mundo e o formato MP3 não era tão difundido. Como consequência deixei de conhecer ‘bandas de um sucesso só’. Até um dia que me apresentaram uma possível substituta para a 89: uma tal de Mix FM, que não era grande coisa, mas quebrava o galho.

Como a Mix era retransmitida para Jundiaí de forma ‘clandestina’, numa tarde qualquer, lá por meados de 1997, quando liguei o rádio, a emissora sumira. Em seu lugar apareceu uma tal Brasil 2000 FM, muito mais rock. E com uma dupla muito mais doida de locutores:  Tatóla e Maia, que assumiam o comando as 16h e só paravam na Voz do Brasil.

Dentre as trações apresentadas pela dupla estava a Porta do Céu. Quadro no qual os ouvintes ligavam e pediam qualquer prêmio (CDs, ingressos, camisetas, etc), então os locutores colocavam uma música do Zé Ramalho ao fundo e batiam fortemente na bancada, até que um membro da produção confirmava ou negava a disponibilidade do prêmio.

Maia, o Homem Enciclopédia, tirava dúvidas sobre o mundo do Rock e bandas. Além de Diariamente inserir uma música nova na programação (lançamento nosso de cada dia). Tatóla ficava só irritando seu colega, e apanhando. O cara até falou o slogan do patrocinador do programa no Jô Soares 11h30.

Os doi fechavam o dia apresentando a parada do dia, misturada a músicas de um tema qualquer ou entrevistas.  Para se ter uma ideia da importância que a dupla atingiu em SP, até o padre Marcelo foi no programa deles.

Do mesmo jeito que a Mix sumiu,  a Brasil 2000 sumiu, dando lugar a uma rádio sem nome e sem locutores que tocava clássicos do Rock ininterruptamente. Não tinha graça nenhuma.

Foi então que descobri a verdadeira sintonia da Mix FM, e voltei a ouvi-la. A rádio estava numa faze bem menos pop, no início da década de 2000. Além disso um dos três Sobrinhos do Ataíde, apresentava alí seu programa, com novos personagens: Doutor Pimpolho, o Incrível Rosca, o Homem Cueca, e muitos outros. Mas essa faze não durou e a Mix virou uma ‘rádio mano’.

Já trabalhando em SP, sintonizava a Brasil 2000, e descobri que quase todos os locutores da década anterior sairam de lá, inclusive o Tatóla e o Maia. Pouco depois o grupo Anhembi Morumbi, dono da emissora, transfoumou-a numa rádio educativa.

Sobravam duas opções: a 89 (bem água com açúcar) e a Kiss. (rádio a qual eu não botava grandes espectativas).

Em 2006, o Grupo Bandeirantes comprou a 89, e decidiu que sua grande e exclusiva audiência não era suficiente. Decidindo colocar a Rádio Rock na briga direta pela liderança, contra a Jovem Pan e Transamérica, os novos donos dispensaram quase todos os lendários locutores e mudaram a programação para ‘Rianas’ e ‘Lady Gagas’. O pessoal do estoque aqui onde trabalham ouvem essa nova 89, e é doloroso quando vou até lá e ouço um ícone da mina adolescência totalmente destruído.

Por fim sobrou a Kiss. Rádio que dispensou o jabá e apostou basicamente em clássicos. O dia todo tocando só músicas consagradas. Lançamentos, só de bandas clássicas como Iron Maiden e Ozzy Osborn. de certa forma isso é maravilhoso. Mas por outro, não há renovação? o Rock realmente morreu? O pior é que parece ter morrido mesmo.

Uma coisa que confesso a vocês: eu adoro ouvir rádio! Principalmente uma emissora com ótima programação e uma equipe carismática. É uma companhia para momentos solitários, e som ambiente para os momentos sem solidão. Tenho mais de 30 CDs e mais de 1200 arquivos MP3 que raramente ouço. Pois sintonizar o rádio dá menos trabalho e é mais divertido.

E você?  Que rádio você ouve?

Comentários

  1. Nathália Piva disse:

    + afinal, qts anos vc tem?