Quando estava na faculdade, havia uma entidade que os professores nos ensinavam a respeitar. Era a ADG, Associação dos Designers Gráficos. Era quase um ConFEA ou uma OAB para nossa categoria profissional. o “órgão” que zelava por nosso trabalho e nossa ética.

Repare que usei a palavra órgão entre aspas. Isso porque a ADG não é um órgão oficial. É apenas um “clubinho privado” e seus interesses variam de acordo com os interesses pessoais da sua chapa gestora. O famoso “quem ganhou escolhe”. A única defesa real que a associação faz da categoria é não aceitar “empurradores de mouse” em seus quadros.

O que é um “empurrador de mouse”? Como no Brasil design não é uma profissão regulamentada (como engenharia, medicina, direito ou contabilidade). Qualquer um pode se intitular “designer”. Não aberrações como apenas cabeleireiros que escrevem na porta do salão “Hair Design”, ou decoradores e estilistas que fazem algo semelhante, mas aquele “amigo do vizinho do seu primo” que conhece meia-dúzia de filtros de Photshop,  aprendeu a usar os nós do Corel e acha que isso basta. Pois é, esse pessoal é barrado na ADG.

Fora isso, a entidade tem se fechado cada vez mais em torno de interesses suspeitos. Principalmente em relação aos Concursos de Identidade Visual e Criação de Marcas.

Agora chamados de “Concorrências”, quando uma entidade pública ou privada pede ajuda à ADG para criar uma marca, identidade visual ou qualquer outro tipo de projeto gráfico, a associação acaba com qualquer possibilidade de “surgir um novo talento”, realizando uma pré-seleção de participantes, baseada no portifólio dos inscritos. Ou seja, quem ainda não teve uma grande oportunidade de trabalho perdeu essas chances de se destacar no mercado.

Antes, quando uma oportunidade surgia, um edital era emitido, contendo o regulamento e o briefing do projeto. O concurso era aberto a qualquer pessoa ou grupo. Escolhia-se o trabalho, não um profissional. Qualquer identificação de autoria resultava em desclassificação automática. Até hoje o poster do Prêmio Design Museu da Casa Brasileira é escolhido dessa forma (a ADG não participa do processo).

Porém, quando surgiu A GRANDE OPORTUNIDADE, a Associação dos Designer Gráficos mudou as consagradas e tradicionais regras de concursos brasileiros. Procurada pela FIFA, a ADG escreveu no regulamento para a escolha da marca da Copa do Mundo de 2014 (não me lembro exatamente, e o texto sumiu a muito tempo do site, mas era mais ou menos isso):

Todo trabalho de design deve ser remunerado, por isso os interessados em participar deverão inscrever seus portifólios, dos quais selecionaremos cinco para a próxima etapa. Os selecionados serão remunerados para desenvolver seus projetos dos quais, um será escolhido e premiado.

Não sei se o vencedor, apontado pelo “juri de notáveis”, foi um desses selecionados (nem a ADG deixou isso claro), mas vimos muito bem que  este novo sistema foi um desastre.

Fora a marca da Copa, não me recordo outro exemplo para citar de imediato. Mas uma semana atrás, a ADG publicou em seu seu site um edital para a escolha da Marca Turística da Cidade de São Luís – MA. Só então me dei conta da sacanagem que este modelo de escolha representa:

Se apenas os portifólios “mais qualificados” participarão, significa que os “melhores” serão sempre os mesmos. Portanto, o que sempre foi uma oportunidade aberta à todos os profissionais (mesmo os empurradores de mouse), estudantes e escritórios de design do país, passou a ser uma “panelinha de meia-dúzia” de agências de publicidade gigantes.

Isso ainda abre espaço para resultados fraudados e combinados, além de suborno e corrupção.

Não me recordo se o edital para a marca da Copa foi feita pela gestão atual da ADG ou pela antiga. Sei que quem criou esse modelo de concursos, e quem o mantém, não defende os interesses dos Designers Gráficos do Brasil.

Só espero que o Comitê Olímpico Internacional não repita o erro da FIFA para os jogos de 2016.