Quando eu era criança, lá pelos anos 80/90, a imagem que tínhamos de um índio era a dos nativos da América do Norte. Marcas como Fósforos Guarani e Fogos Caramuru, além de filmes, seriados e desenhos animados, sempre nos impuseram a a figura das ocas cônicas, as machadinhas de pedra, os cocares brancos e os sinais de fumaça.

Embora pouca gente saiba diferenciar um ianomami de um guaianás, nossa ideia de como é um índio é mais “nacionalizada” atualmente.

Esses povos tidos como primitivos, ingênuos e, em alguns lugares do Brasil, inconvenientes tiveram o papel mais importante na colonização do país. Grande parte das cidades brasileiras foram fundadas próximas à aldeias (é mais lógico viver onde já existe gente).

Era com os nativos que os desbravadores aprendiam o que podiam comer e onde achar ouro.

A dependência cultural era tão grande, que muitos bandeirantes precisavam de interpretes para conversar com portugueses, pois por aqui só se falava tupi-guarani, antes da chegada da comitiva de D. João VI. Isso podemos notar pelos nomes de lugares como Pacaembu, Tijuca, Maceió, Cuiabá, Jundiaí. Nomes cujo os significados foram se perdendo com o declínio das populações indígenas.

Para muita gente, os índios são um passado que não faz falta. Mas não podemos nos esquecer que a boa parte dos brasileiros também não abraça a história portuguesa como “nosso passado glorioso”. Hoje se vive um momento quase forçado de aceitação da cultura oriunda das senzalas.

Será que já não passou da hora de assumirmos nossas origens culturais de maneira plena? De termos o mesmo orgulho de nosso passado, quanto europeus e asiáticos têm dos massacres que seus ancestrais cometeram?

Por parte de pai, tenho ancestrais Negros, Portugueses e Índios. Pelo lado da minha mãe, apenas italianos. Italianos atraídos para uma terra de oportunidades criadas por esses três povos.

Não digo que a colonização tenha sido um processo agradável aos índios, negros ou mesmos os bandeirantes portugueses (talvez menos sofridos, mas ainda assim sofridos). O país hoje é referência internacional. E para uma nação ser grande, seu passado deve ser exaltado. Bem ou mal, essa é a única história que temos. E é ela que nos define como povo.