Conforme havia comentado aqui no blog, na última segunda-feira, dia 22 de março, não fui trabalhar. Ao invés disso fui a um lugar chamado Casa da Cultura Digital, uma ONG localizada numa travessa da Avenida Angélica, entre o Minhocão e a Avenida Rio Branco. Essa organização dedica-se reúne diversos profissionais, e outras entidades, em projetos de disseminação e uso de softwares gratuitos e de código aberto, além de um uso menos boçalizante da internet.

Este foi um dos locais escolhidos pela Fundação Mozzila para o lançamento mundial de sua rede social Drumbeat. (Na quinta-feira, dia 18, houve o primeiro evento de lançamento, no Rio de Janeiro. Mas como não fui, não direi nada desse). Em ambos os eventos esteve presente o diretor-executivo da Fundação Mozzila, Mark Surman. Este cara, antes de trabalhar na Mozzila, esteve envolvido em diversos projetos de inclusão tecnológica, desde a década de 1980.

O Brasil foi escolhido para sediar os eventos de lançamento mundial da rede Drumbeat por ser a sede do maior Campus Party e do maior congresso de software livre do mundo.

Cheguei na Casa pouco antes das 14h (horário programado para o início). A princípio o clima parecia bem frio (confesso que era o que eu esperava). Um clima como o do DACAM (Diretório Acadêmico de Comunicação e Arte do Mackenzie – o diretório ao qual meu curso era ligado quando fiz faculdade), aquele ar de “que que cê qué aqui?”. Realmente não foi uma impressão legal.

Mas foi uma impressão errada,. Conforme mais gente chegava fiquei mais a vontade. Comecei a perceber que fora a iluminação da sala e o “mobiliário” (almofadas para sentar no chão) o lugar4 não tinha ndada a ver com o DACAM. O Próprio Mark Surman ajudava a arrumar as almofadas para caber todo mundo.

Até que, perto das 14h30, começou. Numa dinâmica de grupo os organizadores pediram que todos dissessem seu nomes, o que faziam (profissão/função profissional) e qual sua lembrança mais antiga da internet. E foi incrível como perguntas tão simples possam ser tão libertadoras: na minha vez de falar, disse “sou designer gráfico, mas no momento trabalho com web” e “minha primeira lembrança da internet foi na escola de informática, quando instalaram o Netscape Naveagator e colocaram um site offline em todas as máquinas, pois nem rede havia. Ou seja, minha primeira lembrança nem foi com internet de verdade”. Depois que eu fale, outras pessoas também, contaram que também tiveram experiências offline no início da web.

Ao término das apresentações me dei conta que eu era o único “paraquedista” no local. Jornalistas, educadores, programadores, todos com projetos em andamento na internet. Todos, menos o único designer gráfico presente. Me senti deslocado, mas não diminuido. Mesmo assim, não tive a mínima vontade de ir embora.

Na sequência, uma outra “brincadeira” foi proposta; no chão da sala havia um eixo de fita, com um S em uma ponta e um N em outra. De início, por causa da posição geográfica da sala (vide o sol refletido no piso), achei que significava Norte e Sul, mas era Sim e Não. Algumas perguntas foram feitas e cada um se posicionava, gradualmente, no local mais de acordo com seu ponto de vista. Pçerguntas como “as pessoas com as quais trabalho gostam da internet?”, “a internet é segura?” integraram, a dinâmica”.

Mas o debate se acalorou mesmo quando o público foi questionado se sabia o que significa internet livre. Na verdade a discussão virou “a internet é livre ou não?”. Esse era o tema central do encontro, e a base de formação da rede Drumbeat, mesmo assim é um daqueles assuntos que, pela própria complexidade e liberdade de interpretação, nunca terá uma definição unânime.

Então começou a palestra de apresentação da rede Drumbeat:

  • A internet é generativa: aberta, participativa,descentralizada e em constante evolução. Assim como todos podemos nos beneficiar dela, também podemos contribuir com o avanço da web. Isso gera um ambiente saudável;
  • Também foram apresentaram os obstáculos para essa abertura da internet, como problemas de infraestrutura, a mercantilização, o domínio das grandes corporações (não só da web como as que migraram para cá), e a falta de uma linguagem própria para vídeos na internet, por exemplo.
  • Por fim, se quisermos ter uma internet livre nos próximos 100 anos temos que agir. E o que facilita muito essa luta é ofato de podermos fazer alguma coisa, não apenas votando ou boicotando empresas “cruéis”. Mas o importante é a comunidade usar a tecnologia da internet para entender, participar e assumir suas vidas online. E neste ponto surge surge a Drumbeat:
  • Uma rede de colaboradores para desenvolver projetos na web. Não apenas programadores, como quando desenvolveu-se o navegador Firefox, mas todo tipo de gente (designers, advogados, professores, psicólogos, etc.), para desenvolver todo tipo de projeto (desde aplicativos para impedir o uso de propaganda spam até um conjunto de pictogramas para contratos de termos de uso para serviços online. Qualquer pode começar um projeto. Todos que quiserem, puderem e tiverem conhecimento podem participar de qualquer projeto. E você pode se inscrever no site www.drumbeat.org (se você tentar www.drumbeat.com será desviado para o site da Adobe).
  1. Também foi explicado que cada projeto poderia atingir até três estágios:
    O primeiro é o debate de ideias. Antes de mais nada é preciso conhecer a viabilidade e as necessidades de cada projeto;
  2. Depois vem a etapa onde começa-se o desenvolvimento. O projeto começa a sair do “papel” e a tomar forma;
  3. Por fim, (e poucos devem chegar a este ponto) os projetos entram num estágio de finalização e aplicação, onde a Fundação Mozzila pode injetar dinheiro ou abrir uma página de doações, para apoiar a causa.

Terminada a palestra, Mark Surman, respondeu às perguntas e dúvidas do pessoal presente. Teve quem perguntasse se o site seria traduzido. Outros questionaram sobre a infraestrutura física da Fundação Mozzila. Eu quis saber como seriam que coordenaria cada projeto (seu idealizador, alguém indicado pela Mozzila, alguém eleito pelo grupo desenvolvedor), como e quem determinaria a evolução de cada projeto, e se um projeto não mudasse de nível, ele seria removido do ar ou ficaria parado até alguém retomá-lo. A resposta me desanimou um pouco: Surman disse que questões como essa ainda estavam em aberto e seria decididas pela própria comunidade Drumbeat. Pode parecer algo lógico e interessante, mas também sem regras pré definidas, pode levar a uma bagunça onde nada progride. Mas apesar disso, ainda mantenho-me otimista quanto à rede Drumbeat.

Depois da seção da seção de perguntas, foi feito um intervalo para as pessoas comerem, descansarem e conversarem. Neste momento conversei um pouco com Mark Surman. Não foi uma conversa longa e profunda, pois, como meu inglês é de “escola pública”, precisamos de um intermediário para nos entendermos.

Na sequência, o pessoal da Casa da Cultura Digital nos apresentou cinco projetos já em desenvolvimento. Dois da própria rede Drumbeat e três externos.

Então, o público teve a palavra novamente. Desta vez para expor seu projetos. Trabalhos educacionais em andamento, atividades já estabelecidas. E mais uma vez eu fui o diferente, uma ideia ainda não iniciada: usar qualquer fonte tipográfica em qualquer site. No momento estou pesquisando o que já é possível fazer para inscrever meu projeto na rede.

A rodada seguinte a esta foi para que cada um desse um conselho à Drumbeat. Muitos disseram que os projetos não deveriam ser só virtuais, mas reais. Outros pediram que mais encontros sejam organizados. Por esses conselhos, percebemos que esta realmente será uma rede diferente, não servirá para para jogar “fazendinha” ou fingir que conhecemos pessoas. Mas também aprendemos que só a ideia não basta se ela não for desenvolvida, por melhor que seja.
Enfim, o evento terminou. Todos os presentes aproveitamos para conversar, conhecer melhor os projetos uns dos outros e trocar ideias. Não fiquei muito tempo, mas o suficiente pegar um ou dois contatos.

A Sabrina Parlatore, do programa Vitrine (TV Cultura) entrevistou o pessoal que ficou até o final (inclusive eu). A reportagem deve ir ao ar no dia 3 de abril (não dia 27 de março, colo ela nos disse na hora).

E se você pode contribuir com uma internet melhor e mais livre inscreva-se na Drumbeat. Garanto que é muito mais interessante que o Orkut ou o Facebook.

Comentários

  1. Ganthet disse:

    Essa rede é gratuita? ou tem que fazer “doaçoes?”

  2. Nathália Piva disse:

    Eh… parece mesmo que foi uma tarde muito divertida… pena que a TV deu balao. Não foi dessa vez que vi sua cara.
    Fiquei assistindo no sabado, pronta p/ sair, e nao passou.
    Ainda não conferia a Drumbeat. Qualquer hora eu olho la.