Um lugar para se estar
Há muito tempo me pergunto pergunto: o que São Paulo tem que não encontramos em qualquer outra mega cidade do planeta?
A melhor conclusão a qual cheguei foi que São Paulo não tem nada grandiosamente especial. Ou seja, não existe fotografia alguma capaz de resumir a cidade. Não há um roteiro turístico padrão a ser seguido. Sem torres, estátuas, edifícios ou pontes que mereçam ser conhecidos.
Mas então o que há de especial neste lugar? Exatamente isso: São Paulo não é uma cidade para se conhecer, mas para se descobrir, para se explorar.
Imagino que em Nova York, Sidney, Seul ou Londres também há muito a ser descoberto, mas como quem vai há estes lugares já chega com seu roteiro traçado e bem planejado. Não sobra tempo para descobrir o que não está no guia caríssimo que você comprou na Saraiva. E em São Paulo, você é livre para ir onde tiver vontade.
Muita gente imagina que descobrir São Paulo signifique apenas gastronomia. Seja um sofisticado bistrô em Moema, onde você comerá uma apurada fusão da cozinha asiática com a europeia, seja a melhor porção de petiscos da sua vida que você encontra num boteco sujo no Largo do Cambuci. Para muitos, visitar a cidade se resume ao estômago.
Para outros e a cidade das compras. Não importa o o seu bolso, ou a abertura da sua mão, sempre há o que você procura pelo que você pode ou quer gastar. Os roteiro de compra variam de lugares como a rua Oscar Freire e a Rua 25 de Março. Além disso, um dia você ouve falar de uma lojinha de camisetas, que fica numa galeriazinha apertada e escura, numa travessa qualquer da Avenida Rio Branco. Um ou outro amigo te falou do lugar. Você sempre passa em frente mas nunca entra. Um dia coragem e decide conhecer o lugar, e descobre que naquela galeria havia muito mais que uma loja escondida.
Num dia na hora do almoço, você resolve dar uma volta no quarteirão e dá de cara com um sebo, resolve dar uma fuçada e encontra uma das dez cópias daquele vinil raríssimo da quela banda finlandesa de black metal que só você ouviu falar.
Quando se fala de música então? Seja rock, samba ou qualquer outra coisa, para quem sabe procurar, é possível encontrar alguém tocando ao vivo, em qualquer uma das 24 horas de qualquer dia da semana.
E se você resolver sair andado pelo entorno do seu local de trabalho, estudo ou moradia, sempre acha todo tipo de praça ou parque. Não importa o quão movimentado seja o bairro, sempre existe uma enorme, silenciosa, sombria praça deserta onde você pode recuperar sua tranquilidade perdida na avenida movimentada a dois quarteirões dali.
Ou então você encontra um grupo de idosos que se reúne toda quinta-feira de manhã numa praça qualquer da zona sul para fazer uma caminhada. Ou jovens num parque para dançar hip hop. Tem ainda os que se juntam em centros culturais para desenhar. Particularmente, eu descobri um grupo de adultos que se juntam às sexta-feiras para discutir sobre quadrinhos, numa loja do Cambuci.
Ao “nível do chão”, São Paulo pode parecer uma cidade não muito gentil aos que chegam de fora, principalmente com os que chegam para ficar. Mas é tudo uma questão saber se encontrar. Mais do que qualquer um desses exemplos acima, é principal descoberta que fazemos nesta cidade é de quem realmente somos. Passamos de generosos a mesquinhos dobrando uma esquina. Deixamos de ser cruéis ao atravessar uma rua.
Embora ainda falta muita coisa para resolver os problemas com enchentes e o transporte ainda tem muito a evoluir, para quem conhece bem a cidade é possível e tem paciência para relevar tudo isso, percebe o quanto o lugar é incrível. Desde que seu apartamento não tenha vista para o Minhocão, São Paulo é um ótimo lugar para se estar.