E a reunião que pretendia salvar o mundo (literalmente) terminou ridiculamente. A grande prova disso foi o fato de ninguém querer sair na foto oficial. Prevaleceu o “direito individual ao luxo” sobre o “direito coletivo de existir”.

Mudanças nos termos do acordo na hora de votar. Falta de metas de redução de poluição e conservação ambiental. Hipocrisia dos que gostaram do resultado, e daqueles que só queriam “bagunça”.

Os mais satisfeitos eram EUA e China, os maiores poluidores. Esses dois países, assim como a Europa, Austrália e quase todas as nações dependem basicamente queimar carvão e diesel para acender uma mísera lampadinha. Ou seja: suas economias (indústria, comércio e agropecuária) são movidas à fumaça.

A economia chinesa não para de crescer. Quase um quarto dos seres humanos vivos moram na China. Essa população imensa é cada vez mais urbana e dependente dos confortos tecnológicos.

Os estadunidenses são “doidos” por carros de motores enormes. Nunca exitam em invadir outro país por causa de petróleo. E nem saíram direito de uma de suas maiores crises econômicas (provavelmente a segunda maior).

Como esperar que estes dois povos abram mão de todo este desenvolvimento? É exatamente o mesmo que pedir que o Brasil não explore o Pré-Sal.

Agora observe essas duas fotos. Foram tiradas por volta das 8h da manhã, do último sábado, quando eu retornava ao meu carro no estacionamento de um hipermercado:

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(clique para ampliar)

A Primeira é do carro de uma senhora que estacionou ao meu lado. Ela entrou de frente numa vaga e atravessou até a da frente (até aí tudo bem, também faço isso quando o estacionamento não está lotado). Quando a mulher passou todo o carro para a vaga da frente, puxou o freio, desceu, conferiu, voltou ao carro e deu uma pequena ré, até que a traseira de seu veículo voltasse à vaga de trás. Talvez você imagine “vai ver a vaga era pequena e a frente estava sobrando no corredor”, mas não estava. Naquelas vagas cabem sedãs, vãs, furgões, sem avançar para fora da vaga.

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A segunda foto é de um sujeito que estacionou na minha frente (mais ou menos ao mesmo tempo que a senhora estacionava o carro dela). Assim como eu e a mulher, o cara atravessou uma vaga para estacionar na da frente (mais uma vez, não há vejo nada de errado nisso se não atrapalhar ninguém). Notei que ele entrara muito torto na vaga, tão torto que jamais poderia ser proposital. Mas o cara abriu a porta calçou um tênis, trancou o carro e se foi.

Como a sombra do prédio do hipermercado prejudicou a foto, dei uma realçada nos limites da vaga. O interessante é que esta imagem ajuda a mostrar o quanto o carro daquela senhora caberia confortavelmente naquela outra vaga.

É neste momento que você pergunta: “o que é que isso tem a ver com Copenhague? É por que o carro polui?”

E eu respondo: Não é porque o carro polui. Mas uma questão de individualidade. Com certeza estes dois motoristas pensaram nos outros: “que parem bem longe de mim”. Tente argumentar com uma pessoa que faz um negócio desse. Você acabaria batendo boca. Talvez até ouvisse um “sabe com quem cê tá falando?”.

Imagine-se pedindo a todos os habitantes do planeta que não façam as coisas que estão acostumadas a fazer (principalmente quando não tão absurdas como as que estes dois motoristas fizeram). Que mudem seus modos de vida para que animais e até algumas nações continuem existindo. Isso tudo não depende de uma “canetada presidencial” apenas. Ou melhor, do que você abre mão, incondicionalmente, para conter o aquecimento global? Eu, por exemplo, não abro mão de comer carne bovina. Apesar que minha consciência já começou a pesar em relação a isso.

Entre os poucos países que rejeitaram o acordo de Copenhague, provavelmente o único que o fez por uma questão de sobrevivência, e não para contrariar os EUA, foi Tuvalu, uma pequena nação insular localizada num atol, no oceano Pacífico, bem em cima da Linha Internacional de Datas. A altitude máxima do seu território não chega a 5 metros acima do nível do mar. Provavelmente serão os primeiros refugiados climáticos da história (e longe de serem os últimos).

Enquanto a assembleia se preparava para votar o acordo o representante de Tuvalu pediu a palavra e declarou: “Em termos bíblicos, parece que estão nos oferecendo 30 peças de prata para trair o nosso povo. Nosso futuro não está à venda. Lamento informá-lo de que Tuvalu não pode aceitar este documento”.

Tuvalu é um país minúsculo, talvez você nunca ouviria alguém falar dele. E enquanto decidimos que temos o direito de fazer o que nos der vontade, às vezes sem nem nos preocuparmos com os que param a nossa volta, nunca nos preocuparemos com o destino de um sagui perdido na praça em frente de casa ou de uma pequena nação do outro lado do mundo.

Comentários

  1. Vanessa Stefaneli disse:

    Nossa João, tudo à ver com que venho refletindo nos últimos tempos .. Enquanto pessoas não se contentam com os espaços reservados à elas, esqueçem que os demais também têem sua parte, enquanto pais espetam agulhas nos filhos e as pessoas continuam jogando papeis de bala pelo vidro dos automóveis, fica difícil acreditar que algo nesta dimessão possa ser acordado e que faça efeito .. Uma solução para esses pontos só existirá quando + amor e educação for inserida da sociedade como um todo. P.S Quem sabe a gente ganha na Mega-Sena e leva o pessoal pra dar uma volta em Tuvalu antes que tudo aquilo suma !!

    1. JODF disse:

      Pois é né Vanessa. Em meados no século XX, um esquisofrenico chamado John Nash disse que devemos buscar o que é melhor para nós mesmos e para os demais negociantes, caso contrário ninguém consegue nada. O cara ganhou o Nobel de economia por essa teoria, mas parece que ninguém aprendeu nada com isso. Esses dois que pararam tortos no estacionamento não pensam que o que prejudiaca os outros pode prejudiá-los (alguém poderia dar uma portada nos carros deles por não ter espaço suficente para descer em seus próprios veículos). Tanto o povo estadounidense quanto o chinês não se lembram que suas cidades mais ricas estão ao nível do mar: Nova York (boa parte construída sobe aterros) e Hong Kong (sobre um solo instável e barrento).

  2. Ganthet disse:

    Na verdade, os políticos fazem, o que o povo espera que eles façam. Se nos Estados Unidos as pessoas as pessoas esperam que o presidente mande um foda-se p/ o resto do mundo é isso que ele vai fazer. Se aqui o povo espera que o presidente robe é isso que ele vai fazer.

  3. Nathália Piva disse:

    Não sei não Jodf… É dififil convencer as pessoas a mudarem as suas atitudes, já que uma pessoa só naõ faz diferença. Sei que “de grao em grao a galinha enche opapo”, mas também é verdade que “uma andorinha só não faz verão”. AS pessoas acabam se sentindo umas otarias, quando tentam mudar, vendo todos aproveitarem os prazeres mundanos e sendo rotulados de malucos, esquisitoos e chatos. Afinal muita gente pensa “o mundo esta acabando, então vamos aproveitar ao máximo”. E a gente sempre fica com aquela sensação de que quem escreve algo como o que vc escreveu, não está sendo sincero e quer só se passar por esclarecido sem botar em pratica oque falou. Discursar é o que todos fizeram em copenhague, mas por em pratica sao outors 500s.

    1. JODF disse:

      Nathália, é bem como você disse, as pessoas tendem a ver quem tenta mudar seus hábitos como estranhas e chatas. Há muito tempo parei de criticar, na cara, a atitude de quem jogo lixo na rua, por exemplo. Aliás tem muita coisa que faço que tenho até vergonha quando alguém me flagra fazendo. Muitas das coisas que boto em prática até eu acho esquisitas (uma delas é guardar copos descartáveis no bolso para encaminhar para a reciclagem). É como o Brasil tomando a frente nas negociações em Copenhague e comemorando a exploração da maior reserva de petróleo descoberta em mais de 3 décadas. Não é porque é o Lula e PT, qualquer outro faria o mesmo. Qualquer outro mesmo. Pois nossa sociedade também é muito apegada ao carro, e é como eu sempre digo: se houvesse uma estação de metrô em cada esquina, ainda assim São Paulo teria o trânsito que tem. Eu mesmo não precisava ter ido de carro àquele supermercado, mas fui assim mesmo.