Use o Mapa de Caracteres
Repare nestes dois caracteres: x ×. Percebe a diferença entre eles? E essas duas: ß ß. Olhando rapidamente parecem tudo a mesma coisa, mas não são. No primeiro par temos a letra minúscula (ou caixa baixa) romana “x” e o símbolo matemático para multiplicação (o sinal de “vezes”). E no segundo temos a letra minúscula grega “beta” e a ligatura germânica de “duplo-s” (ligatura é o caractere resultante da junção de duas letras). Os quatro caracteres pertencem à mesma fonte (Verdana Bold).
Se você usa internet a mais de dez anos, como eu, e é do tempo do ICQ e dos chats, provavelmente se lembra quando a molecada usava caracteres esquisitos para criar seus nicknames (ou apelidos). Resgatando alguns do meu próprio ICQ temos alguns exemplos:
*F®£ñTj§tA-haRdCOrE*, «§§»R$$TT®«§§», £îv Tÿ£ër®«PF»*RØ£*, ßåñd¡då Dø Cêü®, £ÅÐy.£e.
Se procurar agora em seu teclado, não encontrará vários destes caracteres esquisitos. Se precisar, sabe-se lá porque, um deles talvez procure uma fonte de dingbats (desenhos) ou alguma que tenha apenas com sinais ou com um alfabeto “não-romano”. Mas naquela época, toda essa molecada (dez anos atrás eramos todos molecada) criava seus nicks e faziam alguns desenhos com símbolos tirados do Mapa de Caracteres, uma ferramenta de sistema do Windows.
Embora pareça um uso fútil para a ferramenta (e realmente era), é bom lembrarmos que o Teclado Padrão ABNT-2 só se popularizou no século XXI, e antes disso até acentuação gráfica era uma complicação (daí surgiram bizarrices como “aum no lugar de ão” e “eh no lugar de é”, que persistem até hoje). Também não existiam inúmeros sites de “fontes gratuitas”. E nem nos chats e nem nos nicks de ICQ era possível usar a fonte que desse vontade. Cada um se virava com o que tinha em mãos. E o que todos tinham era o Mapa de Caracteres.
Hoje temos muito mais recursos. Existe uma infinidade de fontes a venda e gratuitas disponíveis para download. Seja imitando uma marca famosa ou o título de um filme. Seja de “bichinhos fofinhos”, sinais de trânsito ,símbolos de super-heróis ou mesmo figuras eróticas. Isso sem mencionar os emotícones, que antes era assim :+) :+( :+| e agora são assim 🙂 🙁 😐 .
Atualmente, até a “criatividade” se banalizou. É difícil alguém que use recursos tipográficos que vão além do teclado. Mesmo entre os profissionais de design, é raro um que use × ou ÷. Sinais fundamentais como esses aos poucos caem em desuso “mecanicamente” falando.
Uma fonte bem elaborada abrange muito mais que letras romanas e algarismos arábicos. A Arial, por exemplo, possuí os alfabetos grego e russo, além de ideogramas hebraicos e árabes, dingbats e sinais de programação em “linguagem de máquina”. As maioria das fontes possui símbolos de diversas moedas, algumas possuem até para o Cruzeiro (nossa antiga unidade monetária).
Alguns sinais, como frações (½, ¼) e “aspas e apóstrofos”, são acionados automaticamente os próprios editores de textos e softwares de diagramação. Outros são tão parecidos, que se não ficarmos atentos, trocamos um pelo outro, como no caso do hífen (–), do traço (–), do travessão (—) e do sinal de menos (–).
É preciso esclarecer que nem todo software aceita qualquer símbolo. Muitas vezes só se descobre após tentar. Mas é sempre muito importante conhecer as ferramentas que se tem em mãos e, principalmente, como elas se relacionam. E quando você desviar das dificuldades, terá um recurso muito poderoso. Ou pode simplesmente brincar com o Mapa de Caracteres, como fazíamos dez anos atrás.
Eu que leio quadrinhos a muito tempo percebo isso que você está falando. Quando as letras eram colocadas a mão nos balões, os palavrões eram trocados por desenhos como cobras, estrela, pregos e bombas. Hoje que é tudo feito no computador, parece que os caras tem preguiça de trocar a fonte ou procurar sinais estranhos no mapa de caracteres, e acabam substituindo os palavrões pelos símbolos que dividem as teclas com os números (@#$%&*).