Para valer a pena, tem que caber tudo numa mochila
A grande vantagem de ficar em albergues quando viajo é que me obrigo a conhecer e conversar com todo tipo de gente, de toda parte do mundo.
No meu último dia em Buenos Aires, estava na área comum do hostel quando comecei uma conversa com uma doutoranda da Universidade Católica. Seu nome era Tânia e se preparava para voltar à Duque de Caxias – RJ, onde mora. Como ela revesa seu domicílio entre o Brasil e a Argentina, ela estava estava dividindo as suas roupas entre uma mochila e uma sacola plástica, para deixar no guarda-volumes do hostel até ela voltar à cidade.
Percebi que a sacola estava superlotada e ofereci uma outra. Ela disse algo que me fez questionar fortemente, não só o conteúdo da minha bagagem, mas praticamente todo meu modo de vida. A resposta dela foi: “Não precisa, obrigada. Eu acho que para valer a pena tem que caber tudo numa sacola”. Imagino que ela estava falando principalmente do custo do guarda-volumes.
Porém, como ela tinha a sacola e uma mochila, acabei me confundindo e passeia lembrar da frase como “para valer a pena tem que caber tudo numa mochila”. Comecei a pensar na quantidade de roupas que levei (se não me engano foram 18 camisetas, e mais ou menos esta quantidade de cuecas e meias também). Como levava as peças suas toda semana a alguma lavanderia, não usei nem a metade do que coloquei na mochila.
Além das roupas normais, também levei roupas térmicas e um casaco para neve. Mesmo com uma mochila de 90 litros e tudo embalado a vácuo, percebi que me faltaria espaço depois de sair de uma livraria da Rua Florida. Prcisei deixar as minhas calças e camisas (que nem usei, as calças sim) térmicas em Ushuaia. Pretendia doar metade das roupas que levei em Montevidéo, pois já não cabia “nem um peido” na mala quando cheguei à cidade. Só não doei porque não encontrei uma instituição que recebesse essas roupas.
Chegando em casa, joguei fora várias camisetas velhas, que já não prestavam mais nem para pano de pó. E, nas próximas semanas, me livrarei de várias outras tranqueiras que não preciso para viver.
“Menos é mais”. Este cânone vale para o design, para a mochila e para a vida.