O dia em que conheci uma lenda do Rock
Não me lembro o dia e nem o mês exato, só que foi em 1998. Numa noite de sexta-feira alguém me avisou que a banda Marky Ramone and the Intruders tocaria em Americana no dia seguinte e que alguns amigos meus, o Nick e o Mirtão, da banda Fistt, iriam para lá e eram amigos do dono do local do show, possívelmente teriam acesso aos bastidores.
Estava no meu momento de fanatismo máximo por Ramones. Então nem pensei muito. Estava no fliperama do Shopping Paineiras e fui a Boulevard Beco Fino procurar uma amiga, a Denise, para confirmar a história. E com a resposta positiva era o momento de assegurar que eu caberia no carro.
Atravessei a Jundiaí até a Vila Arens. Era noite de som no Nacional Atlético Clube. Como tocariam apenas bandas de metal, não entraria no clube para não pagar a entrada. Então pedi ao porteiro para falar com o Nick ou o Mirtão. Combinei o horário e voltei para casa para pedir autorização e dinheiro ao meu pai.
No dia seguinte precisava resolver duas coisas antes de ir: comprar um filme de 36 “poses” e pegar minha câmera de volta, que estava com uma amiga da minha irmã. Como a câmera já estava há meses com a menina, a manivela de rebobinar estava quebrada, e ela não levara o filme para revelar ainda, fui drástico e arranquei o filme da câmera. Não dava tempo de ser delicado, já estava na hora de ir.
Ao colocar o firme, senti um rangido estranho ao avançar as “poses”. Já estavamos em Americana e já clicara umas cinco vezes quando decidi não arriscar e abrir a câmera para descobrir o que acontecia lá dentro. E ainda bem que fiz isso! O filme estava mal colocado e, ao invés de e enrolar estava se dobrando quando era avançado. Paramos numa farmácia pra contar a ponta “defeituosa”.
Enfim chegamos. Se não me engano, o nome do lugar era Vienna. Ainda era dia e a passagem de som acabara a pouco. Então não encontramos o Marky Ramone. Mas trombamos o Clemente, dos Inocentes. Ele contou que sua banda não tocaria, pois um dos membros estava doente.
Aproveitamos para dar uma volta pela cidade e para comer alguma coisa. Como viajei com os trocados contados, agradeço ao Nick e ao Mirtão por me pagarem um cachorro quente.
Ao anoitecer voltamo ao Vienna. Já havia gente na porta. E Marky Ramone estava lá. A casa tinha dois andares. Um térreo e um inferior, onde aconteceria o show. decemos por uma rampa até uma porta de onde se podia ver Marky acertando os últimos detalhes. Mas antes, ele e a banda sairiam para jantar.
Neste exato momento ele veio em direção à porta. Pronto, foi aí que o moleque (no caso, eu) começou a tremer. Apertei a sua mão e pedi para que autografasse duas capas de CDs: a do Rock’n’Roll HighSchool e o primeiro da nova banda dele.
Ele atendeu meu pedido e de mais algumas pessoas que alí estavam e se foi.
Agora sim começava a espectaviva pela abertura da casa. A galera começou a aglomerar. Mais gente chegou de Jundiaí. Era uma espera divertida, aguardando o show e brincando do lado de fora.
Nem me lembro a hora, o Vienna abriu. Entramos pelo térreo, onde havia algumas mesas de sinuca e uma juke box. o Local estava cheio, quase a ponto de dar para se mexer, e a galera cantava em coro as músicas dos Ramones, dos Sex Pistols, do Bad Religion e de várias outras bandas lendárias que tocavam na juke box.
Aproveitei para conhecer os outros membros da banda que circulavam livremente pelo salão, enquanto a ‘estrela’ se isolara no ônibus.
Então o acesso ao andar inferior foi liberado. Duas bandas abriram a noite.
Chegou a hora, Marky Ramone and the Intruders subiram ao palco (se é que podemos chmar aquilo de palco). Estava mais para pequeno desnível do que para um palco. a altura era menor que a de um degrau de escadaria. Tambem não tinha grande profundidade: os três ntegrantes estavam perfilados na beirada do palco e com as costas quase coladas na parede.
E foi neste aperto que eu vio show praticamente de cima da bateria. Para não cair, com o empurra-empurra da galera, em alguns momentos precisei escorar o joelho diretamente no bumbo.
Não acredita? Então repare como o flash da minha câmera incomodava o Marky:
Tá vendo a cara dele?
Com medo do aperto virar dumulto, a banda deixou de tocar as últimas duas ou três músicas.
Foi uma noite legal pra caramba e inesquecível. Conhecer pessoalmente uma lenda do rock. mesmo que o cara não tenha se mostrado exatamente simpático com o público.
E para fechar a noite, ainda adquiri uma relíquea. Enquanto desmontavam a bateria, a arruela de um dos pratos rolou até mim. Pequei-a e em casa a pendurei no pescoço.
Como dá para perceber, depois de 14 anos ela não está mais “novinha”. Já mandei cromá-la há uns cinco anos atrás e troco a cordinha de tempos em tempos. Mas ela continua firme e forte sobre o meu peito, desde 1998.