Meus últimos disquetes
Ondem a noite me livrei dos meus últimos 38 disquetes. Tudo o que talvez eu pudesse um dia precisar neles já foram copiados para CDs há mais de dez anos. Na verdade, já faz quase este tempo que não tenho drives para lê-los. Ainda os tinha por pura nostalgia.
Não sei se alguém se lembra ou se importa mas, quando até a internet discada era para poucos, logo que os computadores pessoais realmente começaram a se tornar populares, em meados da década de 90, era assim que se conseguia qualquer coisa, fossem arquivos, programas ou jogos.
Havia muita solidariedade na era dos floppy disk. Você ouvia alguém dizendo que uma outra pessoa tinha um tal jogo ou programa. Mesmo que você não fosse muito amigo dessa pessoa, não via problema algum em abordá-la e pedir-lhe para copiar o que queria. Em agradecimento era muito comum oferecer outro software em troca. Então um dos dois providenciava os disquetes necessários e os enchia com os arquivos solicitados. Na volta, recebia-os já com o programa barganhado.
Se você emprestasse disquetes a alguém e não quisesse qualquer software em troca, quando tinha, a pessoa oferecia-lhe suas fotos de mulher pelada. É isso mesmo, até para conseguir putaria o disquete era fundamental!
Naquela época repassei o CorelDraw 7 para muitos colegas de classe, copiando o software instalado na minha máquina em 14 disquetes. Um me pediu e na devolução os outros pediram também. Nesses casos, para conseguir dividir tudo em vários discos, recorria-se ao Arj, um compactador de arquivos que rodava no MS DOS. E de compactador só tinha o nome, a diferença no tamanho final era quase irrelevante, mas era a única forma segura, rápida e prática de transferir estruturas complexas de pastas ou imagens que excediam a capacidade de um disquete.
Muitas vezes, os disquetes jamais voltavam às mãos do seu dono original. Fosse porque você se confundia na devolução, ou porque já tinha um com os arquivos pedidos, ou simplesmente porque ficou de devolver e demorou para reencontrar o proprietário.
Até se conseguiam programas e jogos em CD-ROM encartados revistas ou em “CDs cheios” (lotados de pirataria e nem tudo funcionava). No geral essas duas opções eram caras. A compra de um gravador era um investimento financeiro, quem tinha um em casa usava-o para fazer dinheiro. A maioria dos drives serviam mais para ouvir música do que para instalar coisas.
Se precisasse formatar o computador e não tivesse disquetes suficientes para salvar tudo, teria que convencer alguém a emprestar um disco rígido. Não existia HD externo e quase nenhum computador tinha mais que um, então esse era um favor que não se pedia a qualquer um.
Quem trabalhava com imagens não podia arjiar arquivos, pois eles perdiam qualidade. Era preciso comprar um caríssimo Zip Drive, com disquetões de 100 MB de capacidade.
CD, DVD, Blu-ray também já estão caindo em desuso. Nem o pen-drive mantém a sua popularidade. Já tem computador substituindo o HD por chips de memória. Mas, nos tempos de computação na nuvem, as unidades A: e B: do seu PC continuam reservadas aos discos flexíveis.