Quarta-feira passada os principais meios de comunicação do país noticiaram a morte do “Último dos Românticos”. Wando foi internado no final de janeiro, e depois de duas semanas seu coração não aguentou.

Se eu dissesse que sou um grande fã, que conheço todo o repertório e que não perdia um show do Wando seria uma mentira descarada. Porém, o “Colecionador-de-Calcinhas Mór” fez parte da minha história de uma forma bastante interessante:

Eram os últimos anos do milênio (algum período entre 1.997 e 1.999) quando uma nova vertente do Hard Core começava a se manifestar. Um estílo meloso que transformava o som pesado e cheio de ideais que tanto apreciávamos, num rockzinho para namoradinhos. Cheio de letras sobre rejeições afetivas, “pés na bunda” e “chifres”. Este novo egmento ainda se chamava Hard Core Melódico, e após alguns exageros (principalmente visuais), deu origem ao EMO.

Nada contra canções românticas. No Punk Rock, no Hard Core e em várias outras vertentes sempre houve espaço para “músicas do coração”. Os Ramones, por exemplo, tinha ao menos um letra amorosa por álbum. Mas a coisa caminhava para algo excessivo. Os sons de protesto e a trilha sonora dos esportes radicais começavam a seder espaço demais para os comerciais “lovesongs de piercing”. Precisávamos fazer algo rápido se quisessemos salvar nossos “ideais”.

Foi nessa época que a galera que frequêntava o Shopping Paineiras, em Jundiaí, teve uma ideia: resgatar os grandes nomes românticos dos an os 70 e 80. Wando, Fágner, Fábio Júnior, José Algusto e até o Belchior, além de alguns outros em menor intensidade, caíram no gosto dos fãs de Hard Core. “Se quer falar de amor, ouça os mestres”, diziamos. Podemos até classificar esta atitude como uma “contra-revolução”.

A maioria de nós sabia cantar um ou dois dos maiores sucessos desses artistas. Outros extrapolaram e viraram fãs fanáticos de verdade. Alguns poucos, como eu, aderiram ao movimento sem muito conhecimento sobre os cantores, mas com muito intusiasmo. E, claro, os que falavam “credo!” e chamavam todos os adéptos. Foi algo muito divertido que fizemos no final das nossas adolescências.

Dentre todos os “astros bregas” que citei, um assumiu naturalmente a condição de ícone maior do romantismo entre os “anti-emos”. Com sua cara feia, seu corpo gordo, sua imensa coleção de calcinhas ofertadas pelas fãs e, principalmente, por ter o sucesso mais marcante entre todos, Fogo e Paixão, Wando foi escolhido como principal argumento para os que alegavam que não é preciso abrandar um estílo musical para falar de amor. Era perfeitamente possível respeitar alguém que agitasse com o Bad Religion e se emocionasse com o Roupa Nova.

Os jundiaienses que costumavam frequentar “sons” (como chamavamos os pequenos shows de rock realizados em lugares que íam de butecos à casas como o Hangar 110) sempre tinham um pedido às bandas sobre o palco. Ao invés do tradicional “Toca Raúl!”, sempre tinha alguém gritando “Toca Wando!” no meio da galera.

Pode parecer que isso tudo não passou de zueira. Mas foi nessa época que descobri que existe uma grande diferença entre o que eu gosto e o que é bom. E também a diferença entre quem faz muito sucesso e um artista que realmente merece respeito. Não é porque eu não gosto (independentemente se ser rock ou não) que presta. Aliás, quer porcaria maior que punk rock, musicalmente falando? Ou seja, a maior lição que tirei foi tolerância.

Por pior que nos pareça, cada um tem direito de gostar do que quiser, desde que não tentem nos impor. Tranqueira acaba no lixo em qualquer lugar.  E se, dentro de seu universo, algo for bom perdurará por muito tempo.

Não chorei quando soube. Mas a morte do Wando me fez lembrar da sua pequena influência sobre minha vida. Qualquer pessoa que te afetou positivamente foi alguém que valeu a pena conhecer.

Obrigado Wando! Pelas lições de tolerância e por mostrar que sempre há espaço para o amor sem abrir mão dos nossos ideais.