Opera do Mallandro
Numa época onde programas como Bambalalão e Balão Mágico perdiam cada vez mais espaço para Xuxa e suas imitadoras gostosas (na verdade a Globo tirou o Balão Mágico do ar e substituiu-o pelo Xou da Xuxa), quando o Palhaço Bozo era o último palhaço a comandar um programa em rede nacional, Silvio Santos resolve investir no mais demente jurado de seu Show de Calouros. Nascia a Horadukapeta.
Basicamente, o programa comandado por Sérgio Mallandro, no SBT (que ainda se chamava TVS) seguia a fórmula dos demais concorrentes da época:
Desenhos: até aí tudo bem, não eram melhores ou piores que os de outros programas;
Cantores convidados: na televisão mundial, desde que surgiram os programas pré-gravados existe a dublagem musical. Artistas apresentavam-se em programas de auditório fingindo que cantavam e tocavam. E foi numa participação do Trem da Alegria, onde o conjunto de Juninho Bill “cantava” uma música da qual Xuxa participara das gravações. Normalmente, nesses casos existia sempre uma versão sem a participação do convidado. Mas como a Horadukapeta não era um programa normal, Sérgio Mallandro passou batom, colocou uma peruca amarela, um vestido e dublou a parte da “loura”.
Scats com o apresentador e o elenco do programa: enquanto nos outros programas, abria-se espaço para conversa entre humanos e fantoches, encenavam-se curtas peças lúdicas e educativas ou se faziam palhaçadas inofensivas, na Horadukapeta víamos luta-livre com o Super-Mallandro e mais doidos vilões, no centro do centro do palco e sem ringue.
Brincadeiras com a plateia: Não me lembro de “corridas de saco” o de “estourar balão no sopro” ou qualquer coisa do gênero, provavelmente tinha isso também, mas o forte ali era o Mallandrowisk, quando formavam-se dois times (vestidos com a camisa de duas equipes profissionais) de três moleques para bater penaltes com Sérgio Mallandro no gol. Explicando assim, parecia muito sem graça, mas eram os exageros do figurino e gestos do apresentador que faziam o quadro.
Mas a maior atração do programa era A Porta dos Desesperado: três armários, um prêmio (televisão, bicicleta, ou outra coisa legal), dois monstros, e alguém desesperado da plateia. O Mallandro fazia o participante gritar, nadar no chão, gritar mais alto e escolher uma das portas. Após escolhida a porta, mais gritaria. E no momento exato, quando a maçaneta era virada e a porta começava a se mexer, o Mallandro a fechava gritava “calma!” e perguntava “quer trocar de porta”. Normalmente eram chamadas mais uma ou duas pessoas para escolher um dos armários restantes. Depois de muitos gritos, pressão e tensão as portas eram abertas uma a uma, de duas delas saia alguém vestido de monstro e corria atrás da criançada, na terceira estava o prêmio.
Depois de algum tempo sendo incomodada, a Globo contratou o cara. Tentaram encaixa-lo na Escolinha do Professor Raimundo. Deram a ele um programa sábado à tarde, bem ao estilo do Chacrinha e do Luciano Hulk. Até que colocaram ele para fazer o que realmente sabia. Basicamente, seu programa no canal do Roberto Marinho era o mesmo que em sua antiga casa. Ficou algum tempo por lá, mas acabou voltando ao SBT (nessa época já era SBT).
Não tem como esquecer também, que ele foi o príncipe encantado da Xuxa, no filme Lua de Cristal, com direito a cavalo branco e tudo. Imagine, “lindo” daquele jeito, e com aquele “vozeirão”? Lembro-me que a então Primeira Dama, Rosany Collor, fazia uma campanha de arrecadação de material escolar, e o ingresso para assistir este filme era um lápis, uma borracha e um caderno.
Depois sua curta segunda passagem pelo SBT, Sérgio Mallandro sumiu do mapa. Disse ele, em entrevista ao Jô Soares, que até fome passou nesse período. Alguns anos mais tarde reapareceu na TV Gazeta, apresentando um programa extremamente vulgar e com forte apelo erótico. Seu novo projeto se escorava em mulheres gostosas e falsas pegadinhas.
Chegou a ser acusado de usar drogas e de tentativa de estupro.
A última coisa que ouvi falar dele foi que se candidatou a vereador em São Paulo, pelo PTB, na última eleição municipal.
Por que estou resumindo a carreira do cara? Porque em 2007 foi lançado no MySpace um musical de curta-metragem chamado Ópera do Mallandro, uma referência explicita ao filme escrito por Chico Buarque e estrelado por Edson Celulari (Ópera do Malandro – 1986). No elenco do curta-metragem estão Wagner Moura, Lázaro Ramos, Lúcio Mauro Filho, Luciano Zafir (o pai da Sasha), Taís Araújo e outros nomes de peso. Na sexta, alguém me passou o link do vídeo no YouTube..
Na história, no último dia de recuperação, um garoto chamado Chico (homenagem a Chico Buarque) tem 15 minutos para fazer uma redação. Enquanto pensa no que escrever, se imagina andando pela rua, onde encontra pessoas reinterpretando os antigos sucessos do Sérgio Mallandro, imitando outros ícones da cultura Pop dos anos 89, 90 e 2000.
Embora o nível do sujeito caiu muito, devemos nos lembram da época em que ele foi um ícone para a minha geração e esquecer a parte podre da carreira dele.
Ópera do Mallandro
Andre Moraes | Vídeos de Música do MySpace