Amanheci sábado num hostel na Parada Inglesa. Tomei café da manhã. Fui para o Metrô junto com uma fluminense radicada em Campinas e um garoto tocantinense. Estávamos todos indo ao primeiro dia do Monsters of Rock.

A moça desceu no Carandiru para pegar um taxi. Ela era dona de uma loja no Mercado Mundo Mix montado dentro do evento e tinha horário limite para chegar ao Anhembi.

O moleque e eu fomos até o Tietê, pois precisávamos sacar dinheiro. Na saída da rodoviária um baiano se juntou a nós (o cara veio de Feira de Santana só para ver o Ozzy pela quarta vez na vida).

Chegamos ao portão 19 do Anhembi pouco depois das 9h30. Mas os portões só foram abertos pouco antes das 11h. Na revista barraram minhas garrafas d’água. Deram-me quatro sachês com água mineral (não me pergunte quantos ml). Passei na lojinha da Polyana (a fluminense de Campinas) para dar um oi e fui para o palco.

Estava bem próximo ao palco antes dos shows começarem. Afastaria-me quando a primeira banda começasse a tocar. Não pretendia ficar dentro da muvuca. Mas quando imaginei Ozzy Osbourne a poucos metros de mim, não consegui me afastar.

O Palco

A primeira banda a se apresentar foi uma tal de De La Tirerra, projeto integrado por Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura. Depois, veio uma tal de Primal Fear, puro metal alemão de ótima qualidade cantado em inglês (nunca ouvi falar). Na sequência, o quarteto cluber Coal Chamber, que eu conhecia apenas de nome, mas nunca ouvira tocar.

A quarta banda tinha um visual totalmente hipster e um som que se prestaria muito mais ao Lolla Palooza. Eu e uma meia dúzia vaiamos. Para mairia, “não fedeu e nem cheirou”. Para uma garota, que atropelou metade da plateia para empunhar um CD o mais perto possível do palco os membros do Rival Sons eram deuses. E antes que descessem do palco, uma moça que estava ao meu lado disse “se você não gostou dessa banda, espere a próxima. Eles são odiados e serão muito vaiados”.

Aproveitando a deixa, assistir um show numa pista próxima ao palco tem um efeito interessante: a dinâmica do empurra empurra impede que você converse muito com a mesma pessoa por muito tempo. Antes que você tenha a chance perguntar o nome de alguém, você pisca e já tem outro sujeito ao seu lado.

Pois bem, voltando ao show, foi exatamente como a menina falou. Os caras foram vaiados desde que pisaram no palco (lembrei do Carlinhos Brown e entendi porque barraram minhas águas). Fiquei calado até o começo da terceira música. Estava paralisado e literalmente boquiaberto ao ver uma Boys Band do Havy Metal: os caras eram muito ridículos! A galera gritava o nome da atração seguinte: Mötor-Head. O vocalista questionou o público do porquê daquela atitude e declarou-se fã do Mötor-Head igual a nós todos e isso inflamou de vez a situação. A banda chegou a abandonar o palco, mas alguém nos bastidores deve ter dado uma dura nos caras e os obrigou a terminar o show visivelmente contrariados.

Para falar a verdade, quando ouvi que os cabeças do festival eram Ozzy Osbourne e o KISS decidir ir incondicionalmente. Depois vi que parte do resto incluía o Judas Priest, o Mötorhead e o Manowar, mas nem me preocupei em saber que tocaria em que dia. Mas quando o produtor do evento disse que a Lenda Sexual, Lemmy Kilmister passara mal e não subiria ao palco fiquei bem decepcionado. Provavelmente não terei outra chance de vê-lo. Tive medo que o cara morresse e cancelassem o show do Ozzy.

Já que o Lemmy estava zuado (pelos sintomas descritos ele, que é idoso, alcoólatra e diabético, encheu a cara e “pifou” – mas a galera suspeitou que ele contraíra dengue), o Sepultura se juntou aos outros dois membros do Mötorhead para fazer um som de improviso, que ainda assim foi melhor do que todas as bandas que tocaram antes naquele palco. Foi tão da hora que um operador de câmera não se conteve de euforia.

De volta à programação normal, a banda que inventou o visual clássico de metaleiro subiram ao palco. Apesar de parecer um defunto maquiado, Rob Halford ainda manda muito bem. Um puta show! Destaco também o carisma do guitarrista mais novo da banda que interagiu o tempo todo conosco. Por causa do problema do Lemmy, o Judas Priest tocou um set list maior. E o que sobraria para o domingo, já que eles se apresentariam no dia seguinte também?

Já fisicamente exausto e quase surdo, era hora de finalmente ver o Ozzy.

Ozzy Osbourne

O show não começou às 22h30 como estava planejado. O Madman não aguentou de ansiedade e entrou dois minutos antes. O cara tá veio, judiado, já fez muita merda, usou muita droga e até já quebrou o pescoço. Por tudo isso, o senhor Osbourne não aguenta correr pelo palco. Mesmo assim ele ainda detona! O cara zoou pra caramba e cantou muito bem.

Ozzy usou uma mangueira de alta pressão para “atacar” o público. Cansado e com muita sede o Nilton, aquele garoto de Araguaína, abriu a boca a espera do jato. O moleque descobriu do pior jeito que aquilo era espuma. Eu fiquei puto quando tamb´m percebi que não era água, mas depois fiquei aliviado, pois a pressão era tanta que não seria nada legal. Sobrou até para um holdie: enquanto limpava os respingos no equipamento de palco, sofreu um disparo intencional pelas costas.

A grande verdade é que eu já não estava mais curtindo, apenas me aguentando. Pensei comigo mesmo “após Carazy Train me afastarei do palco”. Mas esta música ficou para o final, foi a penúltima canção da noite.

Que noite! Já era quase 00h30 quando o show acabou. Eu estava muito cansado para procurar o Nilton e a Polyana, então me arrastei até a estação Carandiru.

Chegando no hostel, que está numa área onde a Sabesp nega haver racionamento de água, precisei tomar banho frio de caneca. Ainda bem que estava calor e eu com o corpo quente.

Agora estou indo assistir a Era de Ultron. Quando voltar do cinema conto como foi o segundo dia do Monster of Rock.